
Encantado com o mundo jurídico, prestou vestibular para Direito, passou e conseguiu uma bolsa parcial, com reembolso após a formatura. Mas ele não parou por aí. Com o canudo de bacharel na mão, prestou concurso para Juiz e foi aprovado com êxito.
Atualmente, ainda pagando a faculdade, está fazendo a escola preparatória para assumir o cargo na cidade de Ribeirão Preto. A Diretoria de Comunicação do Tribunal de Justiça de Sergipe fez questão de mostrar esse exemplo de vida e foi muito bem acolhida pelo magistrado, que hoje é motivo de orgulho para todos os sergipanos.
Dircom - TJ/SE Gostaríamos que o senhor contasse um pouco como foi sua infância.
Reinaldo Souza Nasci na cidade de Boquim, a conhecida terra da laranja. Pequena, mas agradável e acolhedora. Tive uma infância normal, cheia de amigos e muitas brincadeiras. Nesta época, residia num povoado próximo, hoje bairro Miguel dos Anjos. Estudava na cidade, colégios públicos, onde muitas vezes ia a pé, pois o transporte escolar era precário. Com aproximadamente 10 anos, mudamos para a cidade. Comecei a estudar no Colégio Santa Terezinha, escola particular, cujo pagamento era realizado com muito esforço pelo meu pai, até concluir o ensino médio. Sempre gostei de estudar, aptidão que também se apresentou na minha irmã Simone, hoje professora e pós-graduada. Tinha cinco irmãos, três homens e três mulheres. Eu era o mais moço dos homens. Infelizmente, no ano de 2002, um dos meus irmãos, Ronivaldo Moura de Souza, faleceu num acidente de moto, deixando dois filhos pequenos. Meu pai é um pequeno agricultor, plantador de laranjas, com quem sempre trabalhei desde pequeno. Homem simples, muito trabalhador, honesto, com pouca escolaridade, pessoa da qual tenho muito orgulho. Minha mãe é natural de Nossa Senhora da Glória (SE), lutadora, compreensiva, paciente, dedicada, religiosa, em suma, uma brasileira de verdade.
Dircom - Todo adolescente sonha com uma profissão. O senhor pensava em seguir qual caminho?
RS: Quando eu tinha 14 anos, o Banco do Brasil realizou um concurso, dentro da própria cidade, onde participaram os melhores alunos das escolas do município. Eu e minha colega de sala conseguimos a aprovação. Tecnicamente a função era denominada menor auxiliar, mas sempre ficou conhecida como office boy . Na verdade era um contrato com aquela instituição, cuja duração se estendia até os 17 anos e 10 meses. Nesta fase, pensei em ser bancário, mas findo o contrato, continuei trabalhando com meu pai na lavoura de laranja.
Dircom - E como o senhor foi parar em São Paulo e por qual motivo?
RS: Vim a São Paulo com meu tio Antônio. Muitos não acreditam, mas eu não queria e não tinha nenhuma vontade de visitar essa cidade. Ocorre que esse meu tio costumava nos visitar ocasionalmente. Em uma dessas visitas, ele não teve condições de dirigir o carro e conseguiu um motorista para levá-lo a Boquim, o qual não retornaria com ele a São Paulo. Chegada a data de retorno, meu tio precisou de alguém para dirigir e pediu ao meu pai para que eu fosse. Não queria, mas meu pai insistiu e o meu tio Antônio garantiu que o retorno seria rápido. Chegando a São Paulo, no dia seguinte, conheci o senhor Jonas, compadre do meu tio e motorista do Tribunal de Justiça de São Paulo. Tomei conhecimento de que estava em andamento concurso para o cargo de motorista. Insistiram muito, refleti, conversei com meus pais e resolvi prestar. Fui aprovado e ali comecei a trabalhar. Permaneci nesse cargo por seis anos e meio.
Dircom - Quando o senhor começou a pensar em estudar Direito?
RS: Depois de alguns meses no cargo de motorista, senti a necessidade de morar no interior do Estado. Uma das alternativas era prestar outro concurso público. Comecei a estudar para Oficial de Justiça, cujo programa contemplava cinco matérias jurídicas. A partir do estudo intenso de tais disciplinas, emergiu o interesse pelo Direito.
Dircom - Foi muito difícil a época da faculdade? Onde o senhor estudou e o que aprendeu de mais importante?
RS: Foi uma fase das mais difíceis. Casado fazia alguns meses, pagando aluguel, sem dinheiro para arcar com todas as despesas, resolvi prestar o vestibular. Ingressei na Universidade São Francisco. Consegui, nessa instituição, uma bolsa que permitia o pagamento parcial da mensalidade, com reembolso posterior à formação. O benefício era de 50%, cujo remanescente continuo pagando. Tinha aulas das 7h20 às 11h30. À época, pegava cinco conduções diárias, pois precisava trabalhar no Tribunal das 13 às 21 horas. Penso que na faculdade o mais importante que aprendi é que é preferível uma sociedade de bons homens a uma sociedade de boas leis . Na minha graduação consegui perceber, também, que o capitalismo voraz não pode fazer desaparecer no operador do Direito o sentido de justiça e de pacificação sociais.
Dircom - Quando o senhor se formou, em 2003, já pensava em prestar concurso para Juiz? Foi muito difícil passar?
RS: Na verdade, o meu desejo pela magistratura iniciou-se quando ingressei na própria faculdade. Qualquer concurso público, hoje, é muito difícil. O concurso da Magistratura, não só de São Paulo, é muito concorrido. Aqui, em especial, vêm candidatos de todas as partes do país, cujo nível de preparação é muito bom. Tive que renunciar a muitas coisas e adotar uma rotina de estudo diária que possibilitasse a aprovação. Com muito esforço, perseverança e fé em Deus consegui. Tive o apoio e compreensão da minha esposa Jucilene, a quem devo boa parte desta conquista.
Dircom - Como seus colegas do Tribunal de Justiça receberam a notícia da sua aprovação para Juiz? Principalmente os mais simples, que são motoristas, como o senhor já foi?
RS: Ficaram muito felizes. Para muitos eu represento um exemplo que deve ser seguido, vez que as adversidades jamais devem ser obstáculos à realização de um sonho.
Dircom - Creio que o apoio da sua família também foi fundamental, não?
RS: Minha família constitui o meu alicerce, sem a qual minha história seria diferente. Todos estão muito felizes e orgulhosos. Meus pais são vivos e saudáveis, graças a Deus. Tenho dois filhos lindos e maravilhosos, verdadeiros presentes divinos. Minha esposa foi e tem sido o meu braço direito, sofreu junto e, agora, está muito feliz. Eu a conheço desde a 5ª série. Filha de pessoas das quais gosto muito. Considero a família dela como minha segunda família. A ela, com quem tanto sofri, meus agradecimentos.
Dircom - Como o senhor pretende desempenhar seu papel de Juiz e onde o senhor vai trabalhar?
RS: Penso que a função de julgar é um dom quase divino, que deve ser exercida com responsabilidade, dedicação, equilíbrio e, acima de tudo, bom senso. É preciso ressaltar que somos seres falíveis, mas como a verdadeira justiça só provém de Deus, nós, Juízes humanos, exercendo esta função delegada por ele e conferida constitucionalmente pela sociedade, devemos exercitá-la da melhor maneira possível. Irei trabalhar, de início, na cidade de Ribeirão Preto.
Dircom - Que avaliação o senhor faz do Poder Judiciário hoje? O que o senhor acha que pode ser feito para melhorar a prestação jurisdicional?
RS: O Poder Judiciário é um dos baluartes do nosso Estado Democrático de Direito. Nele repousam muitos anseios dos jurisdicionados. É o Poder Judiciário verdadeiro guardião dos direitos e garantias catalogados na Constituição Federal. O Judiciário, infelizmente, na visão da sociedade, não tem exercido a contento a sua função. Esse descontentamento se revela não pelo conteúdo das decisões, mas pelo fato de que elas são proferidas muito tempo depois. Aqui devemos reconhecer que Justiça tardia não é Justiça. Essa lentidão é fruto de uma legislação arcaica, de uma máquina judiciária que não dispõe dos recursos materiais e humanos necessários ao bom desempenho da atividade jurisdicional e, também, de uma cultura de judicialização de conflitos. É preciso que haja uma verdadeira e efetiva reformulação da legislação processual, de maneira que o processo possa trilhar o seu caminho sem uma enormidade de incidentes e recursos. Faz-se necessária, ainda, a aposta em outras formas de solução de conflitos, tais como a conciliação e a arbitragem, as quais funcionam em muitos outros países. De qualquer forma, confio no Poder Judiciário, o qual vem se modernizando, vem numa busca incessante da melhoria de qualidade da prestação jurisdicional, confiança esta que deve ser ratificada pelos cidadãos, como forma de pacificação e resguardo da própria sociedade. Estamos avançando e vamos melhorar muito.
Dircom - Para encerrarmos, que avaliação o senhor faz da sua vida? O senhor acha que sua história serve de exemplo para tantas pessoas que vivem reclamando das dificuldades do dia-a-dia?
RS: Considero que a minha vida tem sido recheada de adversidades, mas a transposição de cada uma delas constitui-se no incentivo para o enfrentamento daquilo que virá mais à frente. Sou uma pessoa realizada. Agradeço sempre a Deus, pois sem a permissão dele nada disso teria acontecido. Sou muito grato a minha família e a todos que acreditaram em mim. Caso minha história sirva de exemplo, ainda que para uma única pessoa, já serei muito feliz. Como lição, aprendi que a derrota faz parte da conquista e que os obstáculos se apresentam para ser superados. Ademais, nada é impossível ao que crê. Existe uma frase do Imperador Romano Marcus Aurelius, a qual considero muito relevante e merecedora de constante reflexão: a verdadeira grandeza de um homem está na consciência de um propósito honesto na vida, alicerçado numa justa opinião sobre si mesmo e sobre tudo o mais, em freqüentes auto-análises e numa constante obediência aos preceitos que ele sabe serem justos .
Fonte: TJ Sergipe
No inicio de que mês ?
ResponderExcluirA data dessa matéria é de 2007. Seria sempre de bom grado pesquisar as fontes antes de publicar.
Flavio, td bem?
ExcluirEu sempre verifico as datas e tenho muito zelo com tudo que posto aqui no blog, fique tranquilo.
No caso em tela não alterei o texto, pois a informação é irrelevante junto ao tema e objetivo da postagem, qual seja, motivação.
bons estudos!
Olá Deborah, obrigada por sempre postar textos de motivações, acompanho sempre o blog,
ExcluirBons estudos
Olá Deborah, amei a reportagem, sem dúvida é uma injeção de motivação!
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